Na quinta-feira (21), a Universidade Federal da Bahia e o bloco afro Olodum assinaram um protocolo de intenções de cooperação técnica, científica e cultural que fomentará o desenvolvimento de programas, atividades e projetos nas áreas de ensino e extensão.
O vice-reitor da UFBA, professor Paulo César Miguez, que representou o reitor João Carlos Salles na solenidade de assinatura do documento, apontou o bloco afro como um dos intelectuais orgânicos coletivos mais importantes para o país. “O Olodum é uma joia da cultura baiana. É uma instituição que tem se ocupado com os temas sociais e com a questão da educação”, disse.
Entre a ações previstas a partir desta parceria está a celebração dos 220 anos da Revolta dos Búzios, programada para 2018. O movimento popular ocorrido na Bahia, no final do século XVIII, também denominado Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, defendia uma sociedade igualitária e democrática, reivindicando o fim da escravidão e a independência do Brasil em relação à colônia, sendo duramente reprimido com prisões e a execuções de seus principais líderes, que morreram enforcados no Pelourinho.
De acordo com Paulo Miguez, um grupo de trabalho com a participação de representantes da universidade e do bloco afro vai ser criado com a finalidade de organizar as atividades que serão realizadas para marcar a data histórica. Para o presidente do bloco afro João Jorge Rodrigues, os líderes do movimento semearam a ideia de liberdade e foram os percursores da educação e da ideia de universidade.
João Jorge ressaltou a importância da aproximação com a Universidade que trará possibilidades de desenvolver ações nas diversas áreas do conhecimento, como teatro, música, medicina, filosofia, museologia, antropologia, direito, história, etc. “Gente de todas as cores e todas as religiões sonham em ter essa cooperação com a UFBA”, disse ele, que entregou ao vice-reitor cartilhas produzidas pelo Olodum sobre a história de outros movimentos populares como a Revolta dos Malês e Revolta da Chibata e sobre líderes populares a exemplo de Zumbi dos Palmares
“A riqueza agora é produzir conhecimento. A produção de conhecimento é o único caminho seguro para a liberdade, igualdade e fraternidade”, afirmou João Jorge, que considera que a entidade que representa poderá se beneficiar incorporando o conhecimento universal produzido na academia e também contribuir com compartilhamento de seus saberes. Entre as áreas de interesse, apontou as ações de saúde comunitária, produções artísticas e atividades de apoio aos estudantes de pré-vestibular.
Ele também lembrou que a data de assinatura do documento, 21 de setembro, foi escolhida em homenagem Kwame Nkrumah (1909-1972), líder político africano que lutou pela independência de Gana, nascido neste mesmo dia há 109 anos. O presidente do bloco – que tem contado a história dos povos africanos através de seus temas de carnaval, disse que espera ver uma proximidade cada vez maior da UFBA com o mundo afro e com outras universidades africanas. “O olodum é o elo para isso”, afirmou ele.
“O Olodum deixa de ser apenas um objeto de estudo da universidade e passa a ser um parceiro formalizado através deste protocolo”, disse Miguez, que falou também sobre a sua ligação com o bloco afro e a paixão pelo carnaval, tema de suas pesquisas acadêmicas. “A história de Salvador tem como movimento referencial a atuação dos blocos afro, entre eles o Olodum. É com muita alegria que essa casa o recebe como parceiro institucional”.
Todas ações relacionadas à cooperação técnica serão detalhadas por meio de convênios e contratos firmados entre as partes, quando deverão ser definidas metas a serem atingidas, estimativas de pessoas beneficiadas, entre outras informações. O protocolo de intenções tem validade de dois anos, podendo ser prorrogado de comum acordo entre as partes.
Participaram da solenidade de assinatura do protocolo de intenções de cooperação técnica, científica e cultural a diretora da Escola de Belas Artes Nanci Novais, a diretora da Escola de Dança Dulce Aquino e o diretor da Escola de Música José Maurício Brandão.
Olodum
Fundado em 25 de abril de 1979, o bloco-afro Olodum fez a sua estreia no carnaval de Salvador no ano de 1980. Temas históricos relativos às culturas africana e brasileira são apresentados em seus desfiles na avenida. Em 1987, a banda Olodum gravou o seu primeiro disco, que fez grande sucesso com a música “Faraó”. Ao longo de sua carreira, o grupo já lançou 25 álbuns e tem mais de cinco milhões de cópias vendidas. Realizou turnês musicais nos Estados Unidos e Europa e se transformou em uma referência cultural da cidade de Salvador e da Bahia.
O Olodum é uma organização não governamental reconhecida como de utilidade pública pelo governo do estado da Bahia e desenvolve ações de combate ao racismo e à discriminação social. Participa de movimentos sociais em defesa dos direitos civis e humanos e para a promoção da autoestima da população afrodecendente. A entidade, que tem João Jorge Rodrigues como o seu atual presidente, é responsável também pela criação da Escola Olodum, um espaço de expressão da comunidade negra onde são desenvolvidos trabalhos de arte, educação e pluralidade cultural. Sua sede está localizada no Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador.
Em 1990, o Olodum alcançou o reconhecimento internacional com a parceria musical com Paul Simon. No ano de 1996, o cantor Michael Jackson gravou junto ao grupo a canção “They Don’t Care About Us”. O grupo também gravou com outros músicos consagrados como Caetano Veloso e Jimmy Cliff, e participou da música oficial da abertura da Copa do Mundo de 2014.
Fonte: EdgarDigital