Discussões sobre a representação das mulheres na literatura e a escrita feminina, a partir de parâmetros que divergem dos tradicionalmente reconhecidos na análise literária, nortearão a realização do VIII Seminário Internacional e XVII Seminário Nacional Mulher e Literatura – Transgressões, Descentramentos, Subversão, de 17 a 20 de setembro, em vários espaços da Universidade Federal da Bahia. O evento reunirá docentes e estudantes de graduação e pós-graduação da área de feminismo, gênero e literatura, além de escritores nacionais e internacionais que são destaques neste segmento – como a portuguesa Ana Luísa Amaral e as brasileiras Cidinha da Silva, Natália Polesso, Luciany Aparecida Alves, Rita Santana e Lívia Natália – junto a pesquisadoras acadêmicas como Constância Lima Duarte, Ívia Alves, Norma Telles, Ria Lemaire e Rita Terezinha Schmidt, que fará a conferência de abertura “Resistências, Insurgências, Contaminações: do que foi ao que está por vir”, às 17h30 do domingo 17, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFBA, no Terreiro de Jesus.
A atividade, que também é aberta a interessados de áreas multidisciplinares que se relacionam com a pesquisa da crítica feminista, tem o objetivo de “buscar novas formas de pensar os parâmetros consagrados da literatura, pelos quais muitas obras literárias produzidas por mulheres são consideradas marginais e excluídas por um modelo e forma de pensar pautados em valores androcêntricos”, informou a professora Nancy Rita Ferreira Vieira, coordenadora geral do seminário e integrante do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura do Instituto de Letras da UFBA.
Após 18 anos, o seminário, que nasceu com o objetivo de dar continuidade à divulgação dos estudos do Grupo de Trabalho “A Mulher na Literatura”, da Associação Nacional de Pós-Graduações em Letras e Linguística (ANPOLL), volta a ser realizado na UFBA e, mediante o intercâmbio de saberes, quer ampliar e propagar os resultados das pesquisas sobre mulher e literatura, realizadas ao longo dos 32 anos de existência do GT no Brasil, contou Nancy Vieira.
De acordo com Vieira, que também está à frente da Superintendência Acadêmica da UFBA, os estudos sobre a crítica feminista despontaram em meio à terceira onda do feminismo, nos anos de 1960; mas só na década de 1980, docentes nas universidades brasileiras começaram a investigar a escrita de mulheres, em suas pesquisas, refletindo sobre a invisibilização de muitas delas. Neste ponto, a professora defende que “é preciso fazer uma revisão de nossas autoras oitocentistas”, e questiona: “quais mulheres escreveram no Brasil, naquela época, e por que elas não estão representadas na história literária brasileira?” Ela acredita que “isso fará com que sejam resgatadas dezenas de escritoras brasileiras que ficaram excluídas”.
A professora Nancy também alerta que essa invisibilidade feminina não significa a ausência da mulher na narrativa. Lembrando a escritora britânica Virgínia Woolf (1882-1941), ela observou que “a mulher sempre esteve presente enquanto personagem ou musa, mas a partir de um olhar do homem. Onde estiveram então as mulheres que escreveram ao longo dos séculos?”. Segundo a professora, o debate contemporâneo que discute a invisibilidade feminina em determinadas áreas do saber também permite evidenciar as transgressões do sistema de parâmetros firmados em valores masculinos, brancos e eurocêntricos e subversões através da linguagem e de formas alternativas de produzir e difundir as obras das autoras.
Seguindo a tendência de “pensar sobre os grupos minoritários – numa interlocução entre raça, etnia e gênero – que não tiveram presença dentro do cânone tradicional e dos estudos literários tradicionais, a professora citou os programas de pós-graduação do Núcleo de Estudo Interdisciplinar sobre a Mulher (PPGNEIM) e em Literatura e Cultura do Instituto de Letras, que trabalha com uma disciplina focada em literatura e gênero. Além disso, “há um conjunto significativo de mestrandos e graduandos estudando sobre o tema ou se utilizando do aporte da crítica feminista para a investigação de seus objetos”, lembrou.
Fórum de debates, conferências, sessões e lançamentos
Centrado nos obstáculos em torno da mulher na Literatura, a programação do seminário também dará lugar a temas como homocultura e linguagens, com vistas a debater e propor questões relacionadas a pós-feminismo, orientação sexual e de gênero, feminilidades e masculinidades, e a problematizar os lugares de fala da mulher, as experiências e emergências subjetivas, a crítica feminista e as relações de gênero na literatura e na cultura. Com o propósito de ampliar as discussões relacionadas aos estudos feministas, também haverá um fórum sobre estudos de autoria feminina, de gênero e feminismo, na perspectiva contemporânea. Será uma oportunidade de promover a partilha, discussão e o intercâmbio entre pesquisadores e estudiosos de diferentes instituições e regiões do país e do exterior e ainda viabilizar o diálogo entre diversos grupos de trabalho.
Serão 43 sessões de comunicações, 13 mesas redondas e mais de 400 inscritos para acompanhar conferências, depoimentos, minicursos e pôsteres. Também haverá espaço para atividades culturais musicais e teatrais, feira e exposição de livros e lançamento de obras de escritores participantes. Entre os destaques da programação estão um bate-papo com as escritoras Natália Polesso, Luciany Aparecida Alves e Marcela Lunati e uma mesa em homenagem à poetisa baiana Myriam Fraga, organizada por professoras do Instituto de Letras da UFBA e capitaneada pela presidente da Academia de Letras da Bahia (ALB), professora Evelina Hoisel. Haverá também lançamento de livros, como a sexta edição de Úrsula, da escritora maranhense negra Maria Firmina dos Reis, com o estudo crítico de Eduardo Assis Duarte sobre os 100 anos de morte dela; e Traduções da Cultura: perspectivas críticas feministas (1970-2010), organizado por Izabel Brandão, Ildney Cavalcanti, Cláudia de Lima Costa, Ana Cecília Lima, trazendo artigos das principais teóricas feministas desde os anos 70. Veja aqui a programação completa.
O VIII Seminário Internacional e XVII Seminário Nacional Mulher e Literatura – Transgressões, Descentramentos, Subversão é realizado pela UFBA, com apoio da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e das Universidades Católica do Salvador (Ucsal), do Estado da Bahia (Uneb). Os interessados em acompanhar as atividades como ouvintes podem inscrever-se até 10/09, em http://www.mulhereliteratura2017.ufba.br/
Fonte: EdgarDigital