A abertura do Pint of Science em Salvador foi um sucesso surpreendente: os três bares que recebem o festival – Barravento, Caranguejo e RedBurger –, estavam mais cheios do que se esperava para uma primeira experiência, o público interagiu animado com os pesquisadores responsáveis por conduzir a conversa e a mídia já deixara claro que daria bastante espaço ao evento.
No Barravento, em seu intuito de conversar com o público sobre “o que é conhecer?”, o professor de filosofia João Carlos Salles, reitor da UFBA, valeu-se em dado instante de garrafinhas azuis de água mineral como “recurso audiovisual” para ilustrar o que seria uma proposição verdadeira e uma proposição falsa, em sua redução mais simples (ver vídeo). Mas, assim brincando, ele caminhou das noções de proposição e de verdade à explicitação de por que, ainda que se conheça, por exemplo, todas as proposições das ciências naturais e da história, não se penetrou no processo de conhecer, tal como esse processo é tido no olhar do filósofo.
Conhecer tudo que pode ser dito – ciência – não anula e não resolve aquilo sobre o que não se tem a possibilidade de falar, seja da ordem do ético, do estético ou do sublime, e diante do quê se deveria silenciar. E ao saber que estando no campo da fórmula lógica de toda reiteração se está na possibilidade de saber mais, sem saber profundamente, de uma certa maneira, explicou João Carlos Salles, se está refletindo sobre todo o passado da filosofia.
Esse passado o levou ao mito da caverna de Platão (o filósofo seria aquele que deixa o reino das sombras onde os homens estão prisioneiros, conhece o mundo verdadeiro e retorna com suas luzes à caverna), à unidade indissociável entre o verdadeiro, o belo e o bom que marca toda a história da filosofia até Kant e o iluminismo, que quebra essa matriz e a implicação necessária entre os três termos. “O verdadeiro não é necessariamente belo, o belo não é sempre bom, e assim sucessivamente”. Entram em cena a faculdade da razão com seus valores universais, o entendimento e a faculdade do juízo – o que em termos corresponde à filosofia, às ciências e ao direito.
A pergunta “o que é conhecer?” foi retomada pelo filósofo lembrando que, num modelo clássico, conhecer é ter uma crença verdadeira e justificada , mas numa nova perspectiva desde a quebra do cristal do verdadeiro, do belo e do bom por Kant, ter essa crença não é conhecimento e não permite atingir a verdade. “O processo do conhecimento é relevante, valioso e chega a ser sublime. Implica uma rede de confiança, é um processo de construção universal que admite a divergência”, disse Salles. Continuar a divergir significa que ninguém tem a verdade, porque senão se teria um caminho para a verdade. “O processo de conhecer é um jogo muito divertido de construir coletivamente.”
O ambiente da Baía de Todos os Santos
Contar a história da Baía de Todos os Santos é contar a história da formação da Bahia. Para Eduardo Mendes, é um pouco da sua trajetória de vida também. O professor do Instituto de Biologia da UFBA participou da primeira noite do Pint of Science, festival internacional de divulgação científica que reúne cientistas em bares para discutir temas inusitados e relevantes. O professor discutiu “História Ambiental da Baía de Todos os Santos” para uma plateia de curiosos e colegas da academia.
“Quando cheguei na Bahia, como Salvador era chamada, vim de trem. Tive que passar por aquela ponte entre Periperi e Plataforma e fiquei entusiasmado com o cenário que vi. Eu nasci em um sítio que não tinha praia e foi uma grande emoção ver pela primeira vez a Baía de Todos os Santos. Também foi lá o meu primeiro caldo, na praia dos Mares. Voltei correndo de volta para casa, sem saber o que tinha acontecido. Talvez seja por isso que até hoje não sei nadar, lembranças de um início de Baía de Todos os Santos” , comenta Eduardo.
A Baía de Todos os Santos foi descoberta em 1501 pelos portugueses que aportaram em água brasileiras. Era costume da época batizar os territórios encontrados com o nome do santo do dia e, em 1º de outubro, era comemorado o dia de todos os santos em Portugal. O nome acabou tornando-se uma representação do sincretismo religioso baiano. Fruto da separação da Laurência e Gondwana, dois continentes que deram origem à América do Sul e à América do Norte, a Baía tem aproximadamente 150 milhões de anos. Devido à sua posição estratégica, a BTS foi explorada pelos portugueses durante todo o período da colonização e hoje é um dos maiores portos do Brasil. A região é considerada Área de Proteção Ambiental (APA), assim como todas suas ilhas e é sede da Amazônia Azul, zona econômica exclusiva do Brasil com muitas riquezas e potenciais de uso.
A Baía de Todos os Santos sofreu as consequências da interferência antrópica na Bahia e essa riqueza biológica e histórica é colocada em xeque com a má utilização de seus recursos e a poluição. “Acredito que os dois principais problemas são o alto nível de poluição e a fragmentação de suas águas por conta do uso exagerado das bacias do Subaé, Jaguaribe e Paraguaçu. Essas duas ações fazem que o ambiente perca a sua diversidade, com a invasão de espécies exóticas”, explicou Eduardo.