No fim da tarde da segunda-feira, 28 de maio, o jornalista Mauro Malin lança na reitoria da UFBA seu livro Armênio Guedes: um comunista singular, obra imperdível para quem quer conhecer um cidadão baiano muito especial – por décadas, um dos mais importantes quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB) – e tomar contato um pouco mais de perto com aspectos cruciais da vida política brasileira e internacional, em especial com os trajetos da esquerda, ao longo do século XX e começo do século XXI.
Mais ainda, o livro de Malin devolve aos leitores a exata dimensão, hoje um tanto esmaecida, do protagonismo baiano nas formulações do pensamento e das práticas da esquerda na história brasileira recente, principalmente por meio de personagens ricas e nada descartáveis. É por Salvador, aliás, que a obra, cuja base é uma longa série de entrevistas que Malin fez com Armênio a partir de 1988, começa e volta muitas vezes.
Baiano de Mucugê, Armênio Guedes, festejado por amigos e colegas como um homem extremamente gentil, afável e acolhedor, dono de um humor que lhe deixava um sorriso quase permanente nos lábios, a temperar com suavidade opiniões firmes e muito bem fundamentadas, faria 100 anos na próxima quarta-feira, 30 de maio. Morreu aos 97.
Como dito no texto de divulgação da Editora Ponteio, ele “foi talvez o melhor formulador da esquerda brasileira, destacando-se como o firme defensor da linha de ampla unidade democrática que levou à derrota da ditadura de 1964. Filiou-se ao PCB em 1935. Sua grande escola foi a luta contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Armênio vibrou com a conquista da legalidade pelo partido em 1945-46 e decepcionou-se profundamente com a perda de rumo do PCB após a cassação de seu registro, em 1947, sob o governo do general Dutra”.
Foi então que nasceu uma divergência profunda – mas leal – com Luiz Carlos Prestes, de quem fora colaborador direto. Ainda citando o texto de divulgação preparado para a editora no lançamento do livro em São Paulo e no Rio de Janeiro, vale registrar que Armênio aborda o diálogo com comunistas da América Latina e passagens por Cuba, a vida em Moscou numa “escola de quadros”, a denúncia do stalinismo por Khrushev em 1956. No Brasil, os governos de JK e Jango. As vésperas do golpe. A elaboração da política após o AI-5. O compulsório exílio devido à abordagem por um agente da CIA. O governo e a derrocada de Allende, no Chile. A tragédia de seu irmão Célio, assassinado sob tortura. E uma rica experiência na Europa na segunda metade dos anos 1970.
“A sabedoria de Armênio pode ser condensada assim: impedir que utopia se transforme em voluntarismo, ou, no sentido oposto, evitar que realismo vire ceticismo ou cinismo. Antes de tudo, não ideologizar a política, mas politizar a ideologia”.
Mauro Malin, autor do belo livro, começou a trabalhar em jornais em 1966, foi militante do Partido Comunista Brasileiro desde 1968 e, perseguido pela ditadura, deixou o Rio em janeiro de 1976 e voltou em dezembro de 1979. Foi nesse tempo que, em Paris, sob a direção de Armênio Guedes, participou da redação da Voz Operária e se tornou um amigo fraterno daqueles de toda vida. Entre muitos outros, vale destacar seu trabalho no Observatório da Imprensa, junto com Alberto Dines, um mestre do jornalismo falecido nesta semana, e sua participação nos debates de criação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, o Labjor da Universidade de Campinas (Unicamp).
Sobre o Livro
Título: Armênio Guedes: um comunista singular
Autor: Mauro Malin
Editora: Ponteio (2018)
Páginas: 536 páginas
Preço: R$ 74,00