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Comunicação, cultura e hegemonia em debate no Fórum

Mesa foi realizada na quarta-feira (15)

O Instituto de Matemática da Universidade Federal da Bahia (Ufba) sedia nesta sexta-feira (16) a terceira e última mesa-redonda sobre o tema "Hegemonia e Transformação Democrática na América do Sul - cultura e comunicação". Desta vez, serão apontados os avanços e retrocessos no continente sobre a dimensão das políticas comunicacionais. O evento integra a programação da Ufba no Fórum Social Mundial, que segue até sábado (17), em Salvador. 

 

Na primeira sessão, realizada na quarta-feira (15), foram discutidos os "caminhos e descaminhos da democracia". Os especialistas Albino Rubim, da Ufba, e Lia Calabre, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Fundação Casa Rui Barbosa, analisaram o mesmo tema, mas sob a ótica das políticas culturais. O professor colombiano Carlos Yañez, da Universidade Nacional de Colômbia, também fez uma apresentação durante a mesa, que teve como intermediador o vice-reitor da Ufba, Paulo César Miguez. O reitor João Carlos Salles marcou presença na plateia, prestigiando o início das exposições.   

 

Historiadora, a pesquisadora carioca Lia Calabre fez uma retrospectiva dos avanços obtidos no Brasil, a partir de governos democráticos que introduziram uma mudança na forma de pensar a questão cultural, não mais apenas como cobrança de incentivos para projetos na área. "O país começou a trilhar os caminhos para compreender as políticas culturais como lugar de fala para ativar processos sociais, já num outro patamar, inclusive, com atores sociais que sempre tiveram excluídos da cena", afirmou. "Antes, inseridos em uma lógica neoliberal, só se pensava em estímulo à cultura de forma a trazer grandes ganhos para marcas empresariais, por exemplo", completou.

 

Retrocesso

Lia Calabre lamentou o retrocesso que, segundo ela, os países da América do Sul, incluindo o Brasil, vêm enfrentando nos últimos anos, com o cerceamento dos avanços das políticas culturais focadas em cidadania social. "De qualquer forma, a sementinha de conscientizar os cidadãos do direito a ter direito cultural já foi plantada. E, agora, apesar das dificuldades, precisa apenas ser regada pela sociedade civil para que possa frutificar também contra o golpe à liberdade de expressão artística, cultural e de comunicação".

 

Albino Rubim frisou que os modelos econômicos democráticos experimentados pelos países latino-americanos nos últimos anos, "mesmo tendo sido importantes", não conseguiram, segundo ele, desenvolver um programa de experiência pós-liberal. "Nasceram mais de uma negativa ao liberalismo do que de uma alternativa pós-liberal", afirmou. "No plano cultural, também são notados alguns avanços desiguais nos diversos países", disse, citando o exemplo da Bolívia, que hoje já tem maior representatividade feminina no Congresso Nacional, e do Equador, onde, na Constituição, já se reconhece a questão da diversidade.

 

"No Brasil, tivemos, por sua vez, avanços em algumas políticas afirmativas, a exemplo do programa de cotas", disse Rubim. "A Ufba é um reflexo disso, tendo se tornado uma universidade mais plural em termos étnico-culturais", ressaltou. Ele lembrou que os programas de inclusão social, ocorridos a partir de 2008 e interrompidos em 2015, envolveram 40 milhões de pessoas - praticamente, a população de outros países do continente, como Argentina e Colômbia, os que têm maior número de habitantes na América do Sul, depois do Brasil. Criticou, entretanto, o tratamento prioritário dado pelos governos às mudanças econômicas, "quando, na verdade, elas precisariam estar mais atreladas a uma dimensão cultural".      

 

Moqueca de caranguejo

O professor Carlos Yañez fez uma análise dos impactos culturais no "processo de desmantelamento do Estado" na Colômbia. "É um exemplo claro do que se passa na América Latina, em que se vê o ressurgimento de políticas que estimulam as desigualdades com violação dos direitos fundamentais e total desrespeito à diversidade", disse, detalhando questões enfrentadas pelas comunidades indígenas em seu país. Provocado pelo público, fez também uma análise político-cultural da Colômbia, no chamado "pós-acordo" com as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc). Yañez ainda usou a metáfora de um caranguejo, para representar a ideia de que os países sul-americanos caminharam, mas não avançaram, para frente, de forma definitiva. 

 

O vice-reitor Paulo César Miguez ressaltou o quanto a comunidade da Ufba está alegre em sediar parte da programação do Fórum Social Mundial, "sobretudo, em meio ao enfrentamento dos ataques que a universidade vem sofrendo para se manter como instituição pública e de excelência". Ele concluiu com bom humor, referindo-se à metáfora do caranguejo, usada pelo colombiano Yañez, para também passar a mensagem de resistência que marca o evento: "aqui na Bahia, professor, nem adianta o caranguejo querer ir para trás, porque a gente pega ele e já faz uma deliciosa moqueca".