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Diretor da Faculdade de Medicina, Luiz Adan, saudou o professor Zilton Andrade na abertura do Fórum Social Mundial 2018

Evento lotou o salão nobre da Reitoria

 

"Grande parte das pessoas aqui presentes, neste dia em que a UFBA abre suas portas ao Fórum Social Mundial, certamente conhece o professor Zilton de Araújo Andrade e a professora Sônia Gumes Andrade, sabe de sua valiosa contribuição para o crescimento da medicina do Brasil e da projeção internacional dos seus trabalhos. Este reconhecimento se deve não só pela atuação como estudiosos de doenças tropicais, como também pela formação de muitas gerações de médicos, professores e pesquisadores, espalhados mundo afora. Ambos, Sônia e Zilton, ajudaram a escrever a história do que hoje é conhecida como a Escola de Patologia da Bahia.

Zilton nasceu em 14 de maio de 1924 em Santo Antônio de Jesus, Bahia. Aluno brilhante veio para Salvador como interno do Colégio Ipiranga, e após o ginasial, cursou o científico no Colégio da Bahia. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1945 e concluiu o curso em 1950.

Sônia nasceu em Caetité, Bahia, em 1928, em uma família de grande influência cultural na cidade. Sua mãe, Marieta, foi a primeira professora da região a lecionar para uma classe de homens, entre os quais, encontrava-se Anísio Teixeira. Seu pai, Huol Gumes, jornalista, era filho de João Antônio Gumes, professor, escritor e jornalista que fundou em 1897, “A Penna”, primeiro jornal do alto sertão baiano. Sônia mudou-se para Salvador e entre 1941 e 1947, fez os cursos ginasial e científico no Ginásio da Bahia. Em 1948, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde se diplomou em 1953. Neste mesmo ano, casou-se com Zilton, que conhecera durante o curso médico e que retornara da Residência Médica em Patologia na Tulane University School of Medicine, em Nova Orleans, sendo o primeiro médico a ter esta formação na Bahia. Logo em seguida, Zilton se tornou professor da Faculdade de Medicina da Bahia.

Ambos trabalharam no Instituto de Saúde Pública da Bahia, mais tarde Fundação Gonçalo Moniz, criado por Octávio Mangabeira Filho, copiando o modelo do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Foi ali que Zilton, inicialmente conhecera, em 1949, o Prof. Samuel Pessoa, cientista engajado socialmente, voltado às doenças parasitárias que acometiam as camadas menos favorecidas da população. Com Samuel Pessoa, desenvolveu seu primeiro trabalho científico sobre Filariose, em investigações realizadas na Pedra Furada, em Itapagipe. No Instituto, trabalhando com o pesquisador Paulo Dacorso Filho, Zilton se encantou pela anatomia patológica. Após a partida do Dr. Dacorso, ficou responsável pelo Laboratório de Patologia, onde agregou outros estudantes, dentre os quais, Sônia.

Em 1958, foi criado o Programa de Residência Médica em Clínica Médica no HUPES e foi a partir desse momento que, em parceria com os Profs. Roberto Santos e Heonir Rocha, ganharam fama as célebres sessões anátomo-clínicas do HUPES. Zilton e Sônia também protagonizaram a Residência Médica em Anatomia Patológica, curso dinâmico, moderno e com volumosa produção científica que pôs a patologia baiana em destaque no Brasil e no mundo. Nesse ambiente, formou-se um grande número de patologistas que atuam hoje na Bahia e em outras regiões, tanto na área diagnóstica como na investigação científica.

Em 1973, sempre juntos, iniciaram o Programa de Pós-graduação em Patologia Humana, sob a forma de mestrado, logo reconhecido pela CAPES. O programa – de ponta -  atraiu jovens patologistas de várias áreas do Brasil e da Europa.  Anos depois, em 1990 foi estendido ao  doutorado, atualmente nível 6 na avaliação da CAPES.

Sônia e Zilton muito contribuíram à compreensão da patologia da esquistossomose, da doença de Chagas e das leishmanioses. Foram pioneiros na introdução de métodos de coloração, técnicas de imunofluorescência, microscopia eletrônica, histoquímica, entre outras, no estudo de doenças tropicais. O curso de pós-graduação em Patologia Humana da UFBA-FIOCRUZ teve papel primordial na formação dos quadros profissionais – não menciono nomes para não incorrer em omissão, mas foram dezenas de pesquisadores - que hoje trabalham na consolidação de um dos mais produtivos centros de pesquisa do país. 

Zilton e Sônia cumpriram todas as etapas da vida acadêmica (doutorado, pós-doutorado) e ele, desta vez sozinho, seguiu vitorioso na Livre Docência e no concurso para Professor Titular. Ambos têm produção científica impressionante (contabilizei mais de 350 artigos). O reconhecimento dos méritos científicos e acadêmicos de Sônia e Zilton pode ser facilmente atestado pela quantidade de prêmios e condecorações às quais fizeram jus ao longo de suas vidas (contabilizei mais de 30), mas menciono aqui apenas um: a de Professores Eméritos da UFBA, homenagem maior da nossa comunidade aos seus membros docentes.

Durante a saudação feita aos nossos homenageados, tratei-os por ‘’Sônia’’ e ‘’Zilton’’. Não considerem isso uma falta de elegância ou de respeito para com eles. Ambos foram amplamente reconhecidos pelos seus préstimos à ciência e à vida acadêmica ao longo das suas trajetórias. Da minha parte, procurei render homenagens hoje não apenas aos cientistas, mas à pessoa de Zilton e à pessoa de Sônia, e esta, enaltecida, prescinde de títulos. Ambos, em sua vida de dedicação à Universidade, congregam três dos princípios que caracterizam tão complexa entidade: a diversidade, porque foram plenos em suas atividades de ensino, de pesquisa e extensão, todas promotoras de transformação social; a universalidade, porque compartilharam com  muitos e para muitos o seu saber; e a unidade, porque, embora tenham seguido cada um sua trilha de conquistas, foram, em muitos momentos, um só,  razão pela qual, a comunidade UFBA hoje os reverencia."

Luiz Fernando Fernandes Adan