Pre-pa-ra! O comando da música que virou hit em todo o país, Show das Poderosas, também dá nome a um projeto pioneiro de prevenção ao HIV entre jovens: o PrEPara Salvador. O estudo é voltado para adolescentes gays, homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis, entre 15 e 19 anos, através do uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV, a chamada PrEP. A abertura oficial do espaço foi realizada na última terça-feira (9), no Casarão da Diversidade, localizado no Centro Histórico de Salvador. Para o reitor da UFBA, João Carlos Salles, o projeto agrega os melhores valores que a universidade pode oferecer. “Esse é um lugar que celebra a vida, a saúde, o afeto e o acolhimento”, declarou.
Com bastante humor e em um clima descontraído, o evento recebeu representantes de diversas entidades ligadas às áreas de promoção à saúde e, principalmente, envolvidas com questões relacionadas à população LGBTQI+ na Bahia. Os apoiadores queriam conhecer de perto as ações do projeto, que já conquistou a adesão de 40 jovens em pouco mais de três meses.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 10 anos (2007-2017), o número de pessoas vivendo com HIV saltou mais de 700% entre os indivíduos de 15 e 24 anos, com maior incidência em relação ao público-alvo do projeto. E é com base nesse cenário que o PrEPara Salvador pretende atuar. “Nós apostamos em um espaço fora de uma unidade de saúde tradicional. Porque muitas vezes, por serem jovens LGBTs, eles enfrentam discriminação e preconceito nesses locais”, explica Inês Dourado, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) e coordenadora do projeto.
Além de Salvador, o estudo é realizado nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte, com financiamento da agência Unitaid, organização internacional que investe em inovações para prevenir, diagnosticar e tratar HIV/aids. “A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é forte parceira através do Projeto de Avaliação da Implementação da Profilaxia Pré-Exposição no SUS (ImPrEP)”, destaca a professora.
“A ampliação de parceiros é fundamental para que a gente possa garantir a qualidade de saúde da população”, destacou a diretora do Instituto de Saúde Coletiva, Isabela Cardoso. O estudo também é coordenado na cidade pelos professores Laio Magno, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Luís Augusto da Silva, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC/UFBA), e Marcelo Castellanos (ISC/UFBA).
Ainda em relação à UFBA, o projeto recebe apoio da Faculdade de Farmácia, na realização de boa parte dos exames oferecidos aos participantes, e da Faculdade de Arquitetura, que foi responsável pelo projeto de reforma do prédio.
Inovação
Para garantir a prevenção ao vírus HIV, os participantes precisam tomar apenas um comprimido composto por dois antirretrovirais, tenofovir e emtricitabina, diariamente. Para quem acompanha a epidemia, desde que o vírus começou a circular no país, o projeto traz fôlego à luta contra a aids.
Aos 76 anos, dona Conceição Macedo se emociona ao lembrar das noites e madrugadas que passou nas ruas de Salvador, para atender pessoas marginalizadas e infectadas pelo vírus. Desde a década de 80, ela coordena uma instituição para acolhimento de pessoas com o HIV na cidade. “Quando a primeira medicação chegou, eu já fiquei feliz. Agora, com essa novidade, estou mais feliz ainda”, comemora.